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TJGO - Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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UMA HOMENAGEM A RIO VERDE

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ConciliaçãoEspera-se e cobra-se, cada vez mais, uma atuação eficiente do Poder Judiciário na missão que lhe é constitucionalmente outorgada: a de compor litígios, isto é, resolver lides, conflitos de interesses.
A missão jurisdicional, hoje, não mais se realiza com a mera aplicação do Direito Objetivo ao caso concreto. Nos tempos que correm, onde o novo é velho a cada quinze minutos, onde o on-line e o fast-food dão a tônica, caracterizando, para o bem e para o mal, nossa atual sociedade - interligada por sistemas operacionais, softwares, redes de conexão e outros quejandos - a jurisdição, para ser efetiva, deve ser, além de correta, célere.
Estranho e cruel paradoxo: ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos fazem surgir centenas de problemas, antes inimagináveis, com grau de complexidade crescente, a sociedade, sob a égide da cultura do imediatismo, exige a incontinente solução das controvérsias aforadas no Poder Judiciário.
O nó górdio é, assim, compatibilizar a celeridade exigida pelo corpo social, com as necessárias prudência, ponderação e reflexão, ínsitas ao ato de julgar.
Atentos a esse contexto é que devemos analisar o problema da morosidade do sistema judicial - decorrente de uma gama infinita de fatores, como o reduzido número de Magistrados e a deficiência material e humana das Serventias Judiciais, além de questões que escapam ao Poder Judiciário, atingindo as estruturas que lhe dão suporte, como a escolta dos réus presos; as dificuldades nas intimações e nos comparecimentos das testemunhas; as burocráticas indicações e nomeações de advogados dativos; o sistema recursal congestionado por milhares de recursos vãos; um Ministério Público ainda tímido em estrutura, com a necessidade de Promotores acumularem duas ou três promotorias – o que acaba prejudicando decisões que poderiam ser tomadas em atos nos quais eles estão, às vezes por razões de império, ausentes.
Mas vejam que por trás desses problemas encontra-se outro, muito mais grave e de difícil deslinde: aquilo que o Desembargador Kazuo Watanabe denominou de “cultura da sentença”.
Realmente, toda essa estrutura montada, toda essa preparação, todo esse sistema complexo é criado porque desejam as partes e seus procuradores a solução do conflito por meio de uma sentença judicial.
E sentença, como o termo indica, vem de sentir, só podendo o Magistrado concluir, sentir algo, após a movimentação da máquina judiciária, destinada a lhe trazer os elementos de convicção.
Mas - e aí cabe a indagação - o que é, afinal, preferível: que o Juiz decida pelas partes ou que elas, podendo, decidam por si mesmas, julgando o que lhes é mais conveniente, útil e possível?
Essa a mudança de mentalidade que, nesse limiar de século, impõe-se aos juristas.
Nas causas em que é possível conversar, transigir, acordar, é preciso e necessário que os profissionais jurídicos provoquem entre as partes o diálogo, a reflexão, o estabelecimento de pontos concordantes, a superação de mágoas, o espraiar de sentimentos mais nobres como responsabilidade, solidariedade e fraternidade.
E essa provocação ao diálogo, à reflexão, à conversa, só é possível mediante audiências de conciliação ou de mediação.
Há, inegavelmente, uma mentalidade positivista arredia à simplicidade, à informalidade e à praticidade. Muitos usam o fórum como local para sustentáculo de teses acadêmicas, quando nele, fórum, resolvem-se problemas.
E digo isso tendo em mira todos: Magistrados, membros do Ministério Público e Advogados.
Os profissionais do Direito são formados assim. As Faculdades assim os criaram. Essa a Ciência que aprenderam a manejar: a do embate, para resolução por meio da intervenção judicial. A dialética mais simples, da tese, antítese e síntese. Nenhuma maiêutica, infelizmente...
Mas deveriam aprender com um Grande Mestre Humanista, Goffredo Telles Júnior, para quem o Direito não é senão a Ciência da Convivência Ordenada.
São novos paradigmas: do confronto para a convivência; da luta para a conciliação; das rinhas para os ajustes; da intolerância para a paciência, a parcimônia e a harmonia. Das lides para o diálogo.
Parece que essa mudança de paradigma vem ocorrendo. Mas de forma equivocada: a conciliação e a mediação, para serem úteis, devem ser voluntárias. Não devem, jamais, servir como parâmetro de mérito da produtividade de um juiz; do contrário, pode-se estimular a formulação de maus acordos, de ajustes que não contemplam todos os interesses do cidadão ou, o que é pior, pode suprimir a percepção do que é Justo, pelo juiz, maculando o Direito de alguém (afinal, o acordo é concessão mútua... e isso deve doer em quem tem razão).
Um acordo só é válido se efetivamente querido; do contrário, não pacifica nada.
Fixar metas em número de acordos, ou mesmo estabelecer o número de audiências de tentativa de conciliação como forma de verificação do mérito do juiz, é, indiscutivelmente, por em risco o cidadão que já teve seu Direito violado e que só encontra guarida e último refúgio no Poder Judiciário.
Pior: é por em risco a atividade jurisdicional, eis que eleva a uma condição de inexistente superioridade um dos meios de se resolver um conflito. Um dos, mas não o único – e nem sempre o melhor. E, por via reflexa, dissuade o juiz de perquirir a verdade, buscar o Direito, realizar o Justo: afinal, isso não seria meritório! Ora...
Os juízes sempre souberam da importância do acordo, mas também da necessidade, muitas vezes, de exercer a jurisdição como forma de resguardar determinado direito. Nunca tiveram preguiça em julgar. Por isso, devem continuar resistindo à tentação midiática, insuflada por órgãos de controle e, por isso, talvez não saiba o que é olhar nos olhos das partes), de limpar escaninhos com base em acordos mal formulados, empurrados goela abaixo de um cidadão que se encontra numa situação desigual ante o Estado-Juiz.
Por isso juiz é agente político: porque deve saber fazer escolhas, assumir responsabilidades e exercer serenamente e com independência seu Poder. Não pode, jamais, ser títere de órgão interessado em estatísticas ou perfumaria noticiosa.
Em outras palavras: deve-se permitir ao cidadão que busque aquilo que lhe é de Direito. Se ele quiser fazer um acordo, para abreviar o tempo, ótimo.
Se, porém, ele desejar que o Estado lhe diga quem tem razão e resguarde seu direito, ótimo também.

Bruno Miano, Juiz de Direito.

Fonte:http://judexquovadis.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

influencer1

Por Christian Barbosa

 

Quem viaja para fora do Brasil pela primeira vez, geralmente comenta sobre a educação no trânsito que muitos Países praticam. Quem vai para os Estados Unidos, para o Canadá, para o Chile e muitos outros lugares, descobre que ao pisar na faixa você é a prioridade, os carros param e você tem o direito de atravessar.

Bem, aqui no Brasil, a história é bem diferente. Nos últimos meses estamos acompanhando uma série de assassinatos no trânsito, cometidos por motoristas bêbados que se consideram estar acima do bem e do mal. Infelizmente, nossas leis são brandas e pouca gente vai presa por isso. Existe até um abaixo-assinado rolando na Internet, para tentar alterar as leis, caso apóie a idéia participe: (www.naofoiacidente.com.br).

Há alguns anos começou um movimento no País com o objetivo de valorizar a faixa de pedestre, assim como acontece em outros países. Na cidade em que moro, Santos, foi lançado o movimento Faixa Viva, seguindo o sucesso de algumas cidades que estão com o projeto de valorizar a faixa do pedestre.

Quando o projeto começou, era comum ver as pessoas xingando quem parava para o pedestre passar na faixa, receber buzinadas e até correr o risco de tomar uma porrada na traseira. O ambiente era totalmente contrário ao processo de reeducação do trânsito. Apesar disso, alguns motoristas resolveram persistir e hoje, 6 meses depois que o programa foi lançado eu pisei na faixa e no mesmo instante 4 carros pararam, sem eu pedir, sem ninguém buzinar, sem ninguém ficar apressando. O movimento está dando resultados. Provavelmente a próxima geração de motoristas virá com essa consciência e talvez em alguns anos tenhamos o Brasil igual a diversos países que respeitam os pedestres.

O exemplo do trânsito serve como uma luva para exemplificar a produtividade no ambiente de trabalho. Eu recebo constantes perguntas sobre a persistência em uma pessoa adotar um método de produtividade enquanto todo mundo na empresa é desorganizado, vive passando urgências, não tem senso de prioridade, vive interrompendo e acabando com o seu equilíbrio.

Não é fácil ser diferente no mundo, não é fácil parar na faixa enquanto todo mundo fica buzinando na sua orelha. Não é fácil querer ter mais tempo enquanto todo mundo só consegue viver nas urgências. Mas quem disse que viver seria fácil?

Se você não acreditar si mesmo, não persistir, será vencido pelo ambiente, suas convicções serão destruídas e isso irá se repetir em outros momentos. Eu acredito muito no poder da influência, que não podemos mudar pessoas facilmente, mas que podemos através de nossa atitude, de nosso exemplo, criar um reflexo nas pessoas ao nosso redor.

Como influenciar um ambiente a ser mais produtivo? Em primeiro lugar, comece com a sua mesa, deixe-a visualmente mais organizada, sem papéis com tarefas soltas anotadas. Seja fiel ao registrar todas as demandas em uma única ferramenta de produtividade, e mostre isso em todas as ocasiões. Reforce na reunião: “vou anotar, pois se eu não anotar aqui não faço, mas aqui eu já planejo e priorizo”.

Quando seu chefe te enviar uma atividade, anote na frente dele, questione a prioridade, mostre o trabalho de planejamento que realiza. Se houver um estagiário no seu departamento, ótima oportunidade de sentar e mostrar como ele deveria se planejar, sugerir o uso eficiente da agenda, do e-mail, etc.

Quer reforçar para que as pessoas anotem e planejem suas demandas? Imprima sua lista de prioridades e deixe bem visível na mesa, no monitor ou em um porta-retratos. Quando algo for concluído risque. Com o e-mail, deixe-o fechado, tenha horários para responder, explique isso às pessoas.

Da mesma forma como a campanha de trânsito, não será da noite para o dia, mas em algum momento as pessoas começarão a refletir sobre atitudes que podem melhorar seus resultados. Ninguém gosta de mudar porque alguém mandou, as pessoas mudam por suas próprias escolhas, baseadas em exemplos, foi assim desde a infância e funciona até hoje!

Se não mudarem, não se importe com isso, faça o que sua mente e coração acreditam e estará em paz com você. Ter o conhecimento e não aplicar é uma terrível omissão a si mesmo, uma hora alguém irá cobrar o preço e ele pode ser muito caro.

Fonte: http://blog.maistempo.com.br/2011/11/23/o-poder-de-influenciar-o-tempo-de-todos/

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por Stephen Kanitz

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Durante a estada de Richard Feynman no Brasil -
um dos poucos ganhadores do Prêmio Nobel que o 
Brasil pôde conhecer de perto -, os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos métodos de ensino na área da física.

Feynman pegou cinco ou seis livros de física adotados pelo MEC naquela época e um mês depois disse que só daria aquela aula no último dia de sua permanência no país.

No dia fatídico, dezenas de professores de física se reuniram para ouvir sua palestra. Essa história é contada por ele no livro Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman.

Começou assim a palestra:

"Triboluminescência, diz no livro de vocês, é a propriedade que certas substâncias possuem de emitir luz sob atrito".

E mostrou como nossos livros apresentavam a matéria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos.

Isso foi escrito há trinta anos, mas pelas queixas dos alunos, nossos livros de física não melhoraram tanto quanto deveriam.

Segundo Feynman, um livro americano abordaria a questão de forma um pouco diferente.

"Pegue um torrão de açúcar e coloque-o no congelador.

Acorde às 3 da manhã, vá até a cozinha e abra o congelador.

Amasse o torrão de açúcar com um alicate e você verá um clarão azul.

Isso se chama triboluminescência."

Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros didáticos americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos métodos de ensino apresentam muita informação e teoria em vez de despertar a curiosidade.

Criamos alunos tão bem informados que no Brasil inteligência virou sinônimo de erudição. Inteligente é quem sabe muito, quem repete as teorias e conclusões dos outros. Um dia ele poderá até ter opinião própria, mas será difícil se ninguém estimular sua curiosidade.

Sem dúvida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que já foram percorridos. Erudição não mostra necessariamente inteligência, demonstra que a pessoa tem boa memória.

No mundo moderno, em constante mutação, inteligência quer dizer outra coisa. Significa enxergar o que os outros (ainda) não vêem. Isso é próprio de pessoas criativas, pesquisadoras, curiosas, exploradoras, que encontram soluções para os novos problemas que temos de enfrentar.

O método de ensino eficaz, segundo Feynman, deveria formar indivíduos curiosos. O objetivo final de uma aula teria de ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores da matéria. O que mais o espantou é que nosso ensino de física e química é muito superior ao americano, algo que todo brasileiro já sabe. Mesmo assim, notou Feynman, o Brasil produz menos físicos e químicos que os Estados Unidos.

A hipótese que ele levanta é o método de ensino. Damos muita teoria e informação, mas ensinamos pouco como usar as informações aprendidas. Por sua vez, os americanos sabem e aprendem muito menos teoria, mas devotam mais tempo aprendendo como usar a informação apresentada, sob todos os ângulos.

Suspeito que essa seja a razão de nosso péssimo desempenho nos testes internacionais administrados pelo Programa Internacional de Avaliação Estudantil (Pisa), em que o Brasil aparece nas últimas colocações, inclusive em física. Os testes do Pisa enfatizam mais o uso da informação do que a lembrança da informação em si, algo em que o aluno brasileiro se destaca.

O certo seria, talvez, escrever livros "didáticos" menos didáticos e mais motivadores, que estimulassem a curiosidade e fossem mais relacionados com a vida futura de nossos alunos. Alguns dos livros que avaliei mal estimulam o aluno a virar a página para o próximo tópico, muito menos poderiam seduzi-lo a se dedicar ao assunto o resto da vida.

Vamos fazer um simples teste entre 1 000 alunos e descobrir quantos jogaram fora seus livros didáticos após a formatura e quantos os guardaram como o primeiro volume de uma grande biblioteca sobre o assunto. Isso nos diria quais os livros didáticos que de fato estimularam nossa curiosidade, o objetivo principal do ensino moderno.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Revista Veja, Editora Abril, edição 1826, ano 36, nº 43 de 29 de outubro de 2003, página 20

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Por *Luiz Flávio Gomes e **Mariana Cury Bunduky

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A prestação jurisdicional rápida e eficiente é uma mentira no nosso País. Ressalvada uma ou outra exceção, a regra é a morosidade. Uma das razões é o excesso de processos. No estudo Justiça em Números, divulgado pelo CNJ, a média na Justiça Estadual em Primeira Instância no ano de 2010 foi de 6 mil processos por juiz. O estado do Rio de Janeiro apresentou a maior média, chegando ao número de 18 mil processos por juiz. São Paulo vem logo em seguida, com 10 mil processos por magistrado. Nenhum juiz, com a estrutura que tem, consegue dar conta de 10 mil ou 6 mil processos por ano.

Para aferir, durante o ano, a média do número de processos por magistrado no país, utiliza-se o indicador denominado Carga de Trabalho, de acordo com o estudo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Justiça em Números.

Este indicador é obtido mediante a soma dos casos novos, dos casos pendentes, dos recursos internos ingressados, dos recursos internos pendentes, dos incidentes em execução, dividido pelo número total de magistrados.

O alto índice do estado carioca se deve ao fato de ser o responsável por 17% do total de casos pendentes e 10% dos casos novos no país e possuir apenas 5% dos magistrados em primeira instância. O estado do Rio de Janeiro, com esses números, constitui o retrato da mentira em termos de justiça rápida.

Em Segundo Grau, na Justiça Estadual, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul foi o que apresentou maior número de casos por juiz, chegando a 4.365 ações, enquanto a média nacional foi de 2.353 processos.

Assim, não obstante o aumento no número de magistrados em 3,2% no país entre 2009 e 2010, o número de demandas por juiz ainda é um absurdo. Faltam juízes. O Brasil conta com cerca de 8 juízes para cada 100 habitantes. É muito pouco!

Em razão disso, surgem as metas e os mutirões, com a finalidade de agilizar o processamento dos feitos e resolver o entrave, mas a verdadeira causa não é combatida. As ações chegam aos montes diariamente aos cartórios, a apreciação das pendentes fica atravancada, os recursos levam anos para serem julgados e a impunidade e a morosidade permanecem.

A solução apenas será alcançada por meio da reeducação jurídica da população (fortemente voltada para o conflito) e da desburocratização judiciária, a fim de desembaçar questões meramente formais ou secundárias. Do modelo conflitivo de resolução dos processos devemos passar para o modelo conciliatório (mediação, negociação, conciliação etc.).

De outro modo será impossível desafogar o Judiciário e alcançar a verdadeira Justiça. “Justiça tardia é injustiça”, já dizia o grande Rui Barbosa.

* Luiz Flávio Gomes – Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

** Mariana Cury Bunduky - Advogada e Pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes.

Publicado originariamente em atualidadesdodireito.com.br

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

justiça doente

O Brasil terminou o ano de 2010 com mais de meio milhão de presos, sendo quase 45% deles em situação cautelar, ou seja, na espera por uma decisão definitiva. São pelo menos 220 mil pessoas, a maioria pobre, atrás das grades e sem a sentença final. O drama, provocado por um sistema sobrecarregado e lento, já é do conhecimento de grande parte dos brasileiros. O que muita gente ainda não sabe é que a Justiça também é injusta para os que nela trabalham.

Abarrotados de processos – média de 4.763 por ano, sendo o volume aceitável  de mil processos por magistrado, no máximo –, os juízes estão adoecendo. Em decorrência do excesso de trabalho, da falta de estrutura adequada e de pessoal, apontam as principais associações da categoria. Os profissionais de toga têm apresentado mais sintomas de ansiedade, depressão, distúrbio de sono, doenças cardíacas e até câncer.

Na ponta do iceberg, está a preocupação com a segurança e com a vida – a própria e a de seus familiares. Somente em Minas Gerais, segundo o diretor da seccional do Norte do estado da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), Marcos Antônio Ferreira, são mais de 20 juízes ameaçados de morte. “Nós, que já enfrentamos a carga excessiva de trabalho, agora estamos apreensivos. Muitos tiveram que redobrar cuidados, mudar hábitos e deixar de fazer coisas simples, como caminhada na rua. Isso expõe nossa vulnerabilidade e aumenta o estresse”, afirma.

Colega de profissão de Marcos Ferreira, o juiz Isaías Caldeira Veloso, da 1ª Vara Criminal de Montes Claros, convive com a ameaça há tempos. No início de 2010, uma operação conjunta das polícias Civil e Militar conseguiu desarticular um plano para matá-lo. Quatro suspeitos foram presos. Recentemente, ele voltou a ser coagido. Uma de suas filhas passou a receber ligações anônimas com conteúdo ofensivo e ameaçador. “Amo o que faço, mas estou muito preocupado com nossa classe. O juiz trabalha, trabalha, trabalha. Enfrenta todo tipo de gente em processos onerosos para o estado. Só que, beneficiados pela lei, os condenados têm a pena reduzida e praticamente não ficam presos. O resultado é a sensação de impunidade e muita frustração”, desabafa.         

Isaías Veloso confessa que ficou mais receoso após a morte da juíza Patrícia Acioli, assassinada com mais de dez tiros na porta de casa em Niterói, em agosto deste ano. Consternado, passou a ter dificuldade para dormir, ficou mais ansioso e ganhou peso. Mas, como a juíza Patrícia, diz não ter medo de morrer. “A responsabilidade do cargo é enorme. Temos que seguir em frente.”

O juiz Sérgio Abdalla Semião, de Belo Horizonte, não aguentou. Seu organismo perdeu a batalha para a rotina de trabalho que começava às sete da manhã e só terminava 12 horas depois. Preocupado com o acúmulo de tarefas e a responsabilidade do cargo, não comia direito nem praticava exercícios, era agitado e só dormia à base de Lexotan. Em 1997, aos 45 anos, teve que se submeter a quatro cirurgias de pontes de safena e de mamária. Três anos mais tarde, chegou a desmaiar no fórum em duas ocasiões. Em 2001, aos 49 anos, aposentou-se por invalidez. “Obviamente, há o componente genético. Mas os próprios médicos afirmam que a sobrecarga de trabalho, a urgência dos assuntos e o estresse foram decisivos para o meu quadro clínico. É inacreditável o que juiz passa no Brasil”, revela Semião, que dedica-se aos estudos e à produção de um livro. 

O retrato de um Judiciário doente é escancarado na pesquisa Situação de Saúde e Condições do Exercício Profissional dos Magistrados Trabalhistas do Brasil, feita pela professora Ada Ávila Assunção, da Escola de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pedido da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra). De acordo com o estudo, que ouviu mais de 700 profissionais em todo o país, 41,5% dos juízes trabalhistas brasileiros declararam depressão diagnosticada por médicos. Quase 18% tomam medicamento para controlar a doença e aliviar seus sintomas. 

Nos últimos 12 meses, 33,2% estiveram de licença médica e, nos últimos 30 dias, 26% deixaram de realizar tarefas habituais devido a algum problema de saúde. O levantamento aponta que aproximadamente 40% sentem-se tristes e mais de 15% têm chorado mais do que o de costume. O motivo da tristeza não é o salário. Com rendimentos superiores a R$ 20 mil mensais, a categoria culpa o trabalho excessivo: 85% dos entrevistados costumam trabalhar em casa, 45% se deitam depois da meia-noite e 18% acordam antes das cinco da manhã para dar conta dos afazeres. Férias, só no papel. Pelo menos 64% confessaram que não abandonam os processos no período que deveria ser de descanso.   

“O resultado da pesquisa é gravíssimo, pois mostra que o problema dos juízes não é só físico, mas também psicológico. Com isso, o número de afastamentos tem aumentado, trazendo mais intranquilidade aos magistrados e morosidade para o sistema”, afirma o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Renato Sant´Anna, para quem, infelizmente, tais angústias e males são vivenciados por magistrados de todas as varas e  instâncias pelo país afora.

Que o diga o presidente da Amagis, o juiz Bruno Terra Dias. “A incidência de doenças ligadas ao estresse tem apresentado curva ascendente entre nossos associados. Na última década, a composição de gastos do plano de saúde da Amagis com câncer, por exemplo, saiu de 1% para 8%, sendo que 3% já pode ser considerado um percentual absurdamente 

alarmante”, alerta. Para Bruno Terra, também assusta o fato de que, nos últimos 15 anos, apesar de os magistrados ingressarem mais jovens na carreira, o adoecimento está cada vez mais presente e prematuro. “Doenças como hipertensão, estenose arterial, depressão e dores lombares acontecem com mais frequência, mesmo em indivíduos jovens”, lamenta. 

O  comprometimento da saúde da magistratura é causado, segundo o presidente da Amagis, por um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, a sobrecarga, já que em Minas há apenas um juiz para cada 20 mil habitantes. Na capital, a proporção é ainda pior: um para 36 mil. “Para se ter uma ideia, na Argentina a média é de um magistrado para cada grupo de 10 mil pessoas.” Também falta pessoal, tanto juízes quanto funcionários, escrivães, oficiais e peritos. A modernização tecnológica não acontece no ritmo e proporção necessários. A capacitação da mão de obra só engatinha. Ainda é preciso, na sua avaliação, maior dotação orçamentária.

Diante da avalanche de problemas, muitos magistrados têm sucumbido às doenças do corpo e da mente. O secretário-geral da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), juiz Nelson Missias de Morais, conta que levantamento recente detectou um enorme índice de infartados na casa dos 50 anos. E diz que tornaram-se mais comuns os pedidos de exoneração entre juízes que ainda não chegaram nessa faixa etária. 

“A população cresceu e ficou mais consciente de seus direitos. Vai à Justiça para resolver seus conflitos porque confia nela. Só que, do jeito que está, fica difícil atendê-la da maneira que merece”, queixa-se Missias, que dorme no máximo quatro horas por noite, não se alimenta de forma adequada e, como resultado, viu a balança avançar vários dígitos. “A obesidade também virou um problema comum entre os magistrados”, comenta. 

Talvez ainda mais assombrosa seja a prevalência (32,2%) de juízes em risco de apresentar transtornos mentais, muito superior àquela encontrada em estudos realizados em outras populações, conforme desvendou a pesquisa da Anamatra/UFMG. Outro dado extremamente perigoso: uma parcela de juízes que respondeu às perguntas foi afirmativa quanto à questão sobre se já tinha pensado em acabar com a própria vida. Não ficou  só na estatística. No dia 4 de agosto deste ano, uma juíza do trabalho de Recife atirou-se do 11º andar do prédio onde trabalhava. Meses antes, um magistrado do Rio de Janeiro havia dado fim à sua vida. O que a categoria espera é que, com informações tão alarmantes nas mãos, algo seja feito para afastar o demônio do meio-dia, que parece andar à espreita nas varas e nos tribunais. 

 

 

Carga pesada

Justiça de 1ª instância

Distribuição média de processo por juiz (ao mês)
1994 - 62
2010 - 200

Número de sentenças por juiz (ao mês) 

1994 - 47
2010 - 143

Juízes em atividade
1994 - 537
2010 - 927

Total de processos em andamento na Justiça comum estadual
1994 - 507,87 mil
2010 -  4,415 milhões

Média de processos por juiz (ano)
1994 - 946
2010 - 4.763

Desembargadores (TJMG)
2005 - 117
2010 - 121

Processos distribuídos por desembargador (ao mês)
2005 - 110
2010 - 198

Processos julgados por desembargador (ao mês)
2005 - 45
2010 - 171

Adoecimento do judiciário

  • 84,4% costumam trabalhar em casa
  • 70,4% trabalham nos finais de semana, mesmo estando cansados
  • 69,5% se alimentam em horários irregulares por causa do trabalho
  • 64,3% trabalham mesmo nas férias
  • 53,8% dormem mal
  • 50,9% frequentemente têm insônia
  • 45% deitam depois da meia-noite
  • 41,5% sofrem de depressão
  • 37,8% estão tristes atualmente
  • 33,2% estiveram de licença médica nos últimos 12 meses 
  • 32,2% estão em risco de apresentar transtornos mentais
  • 17,5% usam medicamentos para depressão ou ansiedade

Faltam magistrados

  • Em MG, há 1 juiz para cada 20 mil habitantes
  • Em BH, há 1 juiz para cada 36 mil habitantes
  • Na Argentina, a proporção é de 1 para 10 mil 

Artigo publicado originariamente na revista Viver Brasil: www.revistaviverbrasil.com.br/82/materias/02/alerta/juizes-estao-doentes-e-com-medo/